Autor: Mario Arthur Favretto
Muitos acreditam que quando uma
pessoa morre uma parte imaterial de si passa para outro plano, ou para outra
existência, apesar de em Eclesiastes 3:20 haver a menção de que do pó veio e ao pó
voltarás, pois todos vão a um mesmo lugar. Steven Pinker (2013), psicólogo evolucionista
menciona que mesmo em crianças há algo no funcionamento do cérebro das pessoas
que torna difícil entender a finitude da vida. Quando crescemos construímos
melhor o conceito de fim da vida, nosso cérebro compreende o fim dos corpos.
Ainda assim, algumas pessoas apreciam a possibilidade de uma continuidade como
um consolo para a curta e sofrível existência humana.
É comum que pessoas procedam com
supostos testemunhos sobre aparições de fantasmas ou de entidades
sobrenaturais. Porém, há certos aspectos destas aparições que demonstram que
estas podem mais ser fruto da mente humana do que a prova de uma realidade
sobrenatural. Analise desta forma, para que fantasmas e assombrações usam
roupas? Em muitos relatos de aparições e pessoa está usando roupas, mas para
quê? A roupa é feita de tecidos vegetais, animais ou sintéticos, como esta
roupa acompanha a pessoa numa vida além morte? Se a pessoa não sente frio e nem
calor, pois não possui mais um corpo material, se possui mais um propósito de
atender normas sociais contra nudismo e exposição de partes sexuais (que
segundo dizem, anjos não possuem), então por que fantasmas e assombrações usam
roupas? Não seria por se tratar apenas de um lapso no funcionamento neuronal da
pessoa que fez com que ela tivesse uma alucinação?
Outra questão importante, por
que os fantasmas geralmente têm uma aparência cadavérica, mórbida e
assustadora? Não é por que a mídia impõe essa visão das assombrações e assim
quando a pessoa por algum motivo alucina é remetida a esse aspecto? Se o corpo
material é transitório, por que haveria de o “corpo” pós-morte ter a aparência
de um corpo vivo ou manter todas as características do momento da morte? Se a
assombração é algo imaterial, como poderia agir com o material, encostando em
objetos, produzindo sons e afins, se seu meio de contato com o material já
apodreceu? Ou ainda, por que as assombrações só aparecem a noite, justamente
quando as pessoas estão com sono ou quando acordam em meio a noite, e assim,
fica-se mais suscetível que o subconsciente interaja com o consciente
produzindo uma alucinação, um sonho lúcido ou uma paralisia do sono?
Desta forma, vemos que as
supostas afirmações sobrenaturais, são cheias de incongruências que levam ao
entendimento de serem uma explicação inventada para outros fenômenos materiais
que levam a pessoa a observar algo que não existe. Ou seja, fenômenos
biológicos, como alucinações. É possível que as pessoas só aceitem a ideia de
alucinação quando acabarmos com certos preconceitos associados a esse fenômeno
e que assim levam a ocorrência da psicofobia, preconceitos em relação a pessoas
que possam ter funções psicológicas/neurológicas alteradas. Até que isto
ocorra, a explicação sobrenatural será considerada mais bela e reconfortante,
afinal, serviria como um reforço para as crenças das pessoas, do que a
explicação relacionada a um problema, mesmo que ocasional, no funcionamento
neuronal destas.
É necessário afirmar que a
alucinação não é necessariamente algo patológico, tanto que pode ser induzida
por estados de estresse ou consumo de diferentes substâncias químicas. Almeida (2004),
afirma que 10% a 30% da população sem patologias mentais já teve algum tipo de
alucinação. Ou seja, estes estados de consciência alterados podem ser mais
comuns de ocorrerem do que imaginamos, necessitando a plena compreensão de
tratar-se de algo físico nos neurônios e não algo relacionado a existência de
fantasmas e assombrações.
Até há pouco tempo a epilepsia
era considerada como fruto de possessão, em algumas culturas divina e em outras
demoníaca, porém com o avanço do conhecimento científico esclarecido que
tratava-se de uma disfunção no cérebro (ver Magiorkinis e colaboradores, 2010),
que pode ser medicada e tratada. Assim não precisamos mais realizar exorcismos
em pessoas que tenham epilepsia, como afirma a Bíblia (Mateus 17: 15-18).
Somente com a difusão do conhecimento científico, do pensamento crítico e
reflexivo, poderemos compreender que os fenômenos de fantasmas e assombrações,
ocorrem dentro de nossas cabeças, que podem ser ocasionais ou podem ser
sintomas de algo mais sério.
Referências:
Almeida, A.M.
2004. Fenomenologia das experiências
mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas. Tese. Departamento de
Psiquiatria. Faculdade de Medicina. Universidade de São Paulo. 278p.
Magiorkinis, E.;
Sidiropoulou, K.; Diamantis, A. 2010. Hallmarks in the history of epilepsy: epilepsy in antiquity. Epilepsy & Behavior 17: 103-108.
Pinker, S. 2013. Como a mente funciona. Ed. Companhia das Letras. 3ª edição. 672p.