Autor: Mario Arthur Favretto
A vida é um sopro,
frágil e fraca, escapa de nós facilmente. Um ato ingênuo e ignorante destrói a
vida de uma pessoa. Pensamos que pelo fato de acordarmos todos os dias sequencialmente
ela assim continuará, nos iludimos com algumas frequências sequenciais.
Esgotamos nossas forças, sufocamos nossas criatividades e vontades, em prol de
um trabalho diário que a sociedade nos impõe, buscamos o além daquilo que
precisamos, desgastando nossos corpos e mentes, definhamos no envelhecimento
onde somos cavalos de visão fechada, culturalmente forçados a puxar o máximo de
carga, rodando sem sair do lugar. Partimos e retornamos ao mesmo ponto,
enquanto o tempo de vida escapa.
Afogamo-nos em mágoas,
intrigas e confusões que não levam a nada. Lidamos com pessoas fofoqueiras, que
buscam sempre “jogar lenha na fogueira, para ver o circo pegar fogo”.
Destroem-se os laços diários por comentários arrogantes, egoístas ou malévolos
de pessoas ingênuas, que não sabem que a vida não se resume ao trabalho e a
intrigas diárias. Nadamos em hipocrisia social, onde todos querem acusar os
erros dos outros, mas não enxergam os próprios erros. Esbravejam por todos os
cantos sobre o que é moral e certo, porém se esquecem de cuidar do mais
importante, suas próprias ações e pensamentos.
Pintura de Philippe de Champaigne (1650).
Deixamos de viver um
momento por ficarmos pensando em um real a mais que podemos ganhar, ansiamos
pelo dinheiro a mais para saciar nossa ganância e esquecemo-nos do tempo
presente. Pensamos demais no futuro, e esquecemos o presente, sendo que o
futuro pode nem mesmo chegar. Amanhã meu coração pode parar, dentro de alguns
minutos uma veia em meu cérebro pode estourar... a morte nos espreita sempre, e
pensarmos nela é uma lembrança da fragilidade e efemeridade da vida e do quão ignorante nós
somos por desejarmos a grandiosidade e a ganância, quando no final tudo será
apagado e esquecido.
Quantos milhões de
pessoas já existiram? Todos esquecidos, apenas um nome sem significado em uma
lápide ou em um atestado de óbito, ou um esqueleto escondido em algum lugar.
Todos os sonhos e aflições, todos os desejos e preocupações, todas as brigas e
felicidades, tudo se foi para sempre. Nós existimos por um curto período de
tempo e depois somos varridos do privilégio da existência. Por alguns anos
podemos continuar vivos nas lembranças de outras pessoas, em fotos, vídeos ou
palavras escritas. Mas nada resiste às garras do tempo, diante dele tudo se
esvai. Quantos viveram antes de nós, mortes em brigas, guerras, disputas,
acidentes? Todos se foram, nenhum sinal de sua existência permaneceu e nenhum
sinal de nós sobrará para as futuras gerações. Desejamos a vida eterna,
desperdiçamos nosso tempo e energia em busca dela, mas nunca a encontraremos.
Só nos resta viver esta vida, livre das tolas preocupações mundanas, sem
desperdício de alegria, sem desperdício de sorrisos pelas ideias contrárias. Sem desperdício de viver, pelo fato de ainda mais querer. Também sem desperdício
da tristeza, pois também ela é necessária, tola ilusão de que seremos felizes
todos os dias. A vida se vai, nos despedimos dela como se fosse pouco tempo, mas
o tempo sempre é tempo, o tempo foi suficiente, nós com nossa ignorância é que
o gastamos com tolices humanas. Tenha para viver, e viva, não tenha além e não
viva. O momento é certo, o amanhã pode ser o fim.