A vida é um sopro,
frágil e fraca, escapa de nós facilmente. Um ato ingênuo e ignorante destrói a
vida de uma pessoa. Pensamos que pelo fato de acordarmos todos os dias sequencialmente
ela assim continuará, nos iludimos com algumas frequências sequenciais.
Esgotamos nossas forças, sufocamos nossas criatividades e vontades, em prol de
um trabalho diário que a sociedade nos impõe, buscamos o além daquilo que
precisamos, desgastando nossos corpos e mentes, definhamos no envelhecimento
onde somos cavalos de visão fechada, culturalmente forçados a puxar o máximo de
carga, rodando sem sair do lugar. Partimos e retornamos ao mesmo ponto,
enquanto o tempo de vida escapa.
Afogamo-nos em mágoas,
intrigas e confusões que não levam a nada. Lidamos com pessoas fofoqueiras, que
buscam sempre “jogar lenha na fogueira, para ver o circo pegar fogo”.
Destroem-se os laços diários por comentários arrogantes, egoístas ou malévolos
de pessoas ingênuas, que não sabem que a vida não se resume ao trabalho e a
intrigas diárias. Nadamos em hipocrisia social, onde todos querem acusar os
erros dos outros, mas não enxergam os próprios erros. Esbravejam por todos os
cantos sobre o que é moral e certo, porém se esquecem de cuidar do mais
importante, suas próprias ações e pensamentos.
Pintura de Philippe de Champaigne (1650).
Deixamos de viver um
momento por ficarmos pensando em um real a mais que podemos ganhar, ansiamos
pelo dinheiro a mais para saciar nossa ganância e esquecemo-nos do tempo
presente. Pensamos demais no futuro, e esquecemos o presente, sendo que o
futuro pode nem mesmo chegar. Amanhã meu coração pode parar, dentro de alguns
minutos uma veia em meu cérebro pode estourar... a morte nos espreita sempre, e
pensarmos nela é uma lembrança da fragilidade e efemeridade da vida e do quão ignorante nós
somos por desejarmos a grandiosidade e a ganância, quando no final tudo será
apagado e esquecido.
Quantos milhões de
pessoas já existiram? Todos esquecidos, apenas um nome sem significado em uma
lápide ou em um atestado de óbito, ou um esqueleto escondido em algum lugar.
Todos os sonhos e aflições, todos os desejos e preocupações, todas as brigas e
felicidades, tudo se foi para sempre. Nós existimos por um curto período de
tempo e depois somos varridos do privilégio da existência. Por alguns anos
podemos continuar vivos nas lembranças de outras pessoas, em fotos, vídeos ou
palavras escritas. Mas nada resiste às garras do tempo, diante dele tudo se
esvai. Quantos viveram antes de nós, mortes em brigas, guerras, disputas,
acidentes? Todos se foram, nenhum sinal de sua existência permaneceu e nenhum
sinal de nós sobrará para as futuras gerações. Desejamos a vida eterna,
desperdiçamos nosso tempo e energia em busca dela, mas nunca a encontraremos.
Só nos resta viver esta vida, livre das tolas preocupações mundanas, sem
desperdício de alegria, sem desperdício de sorrisos pelas ideias contrárias. Sem desperdício de viver, pelo fato de ainda mais querer. Também sem desperdício
da tristeza, pois também ela é necessária, tola ilusão de que seremos felizes
todos os dias. A vida se vai, nos despedimos dela como se fosse pouco tempo, mas
o tempo sempre é tempo, o tempo foi suficiente, nós com nossa ignorância é que
o gastamos com tolices humanas. Tenha para viver, e viva, não tenha além e não
viva. O momento é certo, o amanhã pode ser o fim.
É cruel a ideia de afirmar que a condição de vida
em que uma pessoa se encontra, como, por exemplo, passando fome, sem emprego ou
doente, seria simplesmente falta de pensamento positivo. Pois bastaria desejar
e pensar positivo para alterar sua realidade. Quando se questiona alguém sobre
como este desejo e pensamento positivo mudaria o mundo, tais pessoas costumam
dizer que trata-se de física quântica, que tudo é energia, tudo é quântico.
Apesar do fato de a pessoa nunca ter lido um livro sobre física. Mas para estas
pessoas a melhoria trata-se de emanar energias positivas, seja qual o conceito
distorcido de energia que ela use.
É cruel
dizer que todos os problemas da vida de uma pessoa dependem apenas dela mesma.
Há situações que não controlamos, pois dependem de uma série de fatores e
acasos, interações sociais e históricas. Observa-se
a sociedade tomada por uma onda de misticismo (um tanto arrogante?) que acha que pode mudar
o universo com o poder da mente e energias emanadas.
Não somos reatores ambulantes emanando energia física ou bioquímica,
por meio de troca de elétrons, glicose ou moléculas de ATP. Se os problemas do
mundo pudessem ser resolvidos pela simples "emanação de energia" (não
é possível saber que tipo de energia inexistente é essa que muitas pessoas
falam), então não haveria doenças e nem sofrimento, todos seriam felizes.
Para resolver os problemas do mundo não precisaríamos de dinheiro
e nem de medicina, bastaria nos sentarmos e emanaríamos energias. Bem, não tão
diferente da metodologia da oração, as pessoas repetem algumas palavras e já
acham que fizeram alguma forma de ajuda. Mas o mundo continua a mesma desgraça
para milhões de pessoas, apenas o emanador/orador sente-se melhor, imerso em
uma autoilusão de que cumpriu com suas obrigações.
Apenas o ego do orador ou emanador que se sente satisfeito por
achar que fez algo útil pela humanidade. Quem dera tudo se resolvesse de forma
tão simples. Fale de emanações de energia ou orações para quem está passando
fome, morrendo, sendo torturado ou estuprado; acho que a situação deles não vai
se resolver por estas técnicas, não é? Engraçado é o conceito de que tudo que você
pensa, você atrai. Que a pessoa só recebeu aquilo que ela desejou para os
outros, se recebeu o mal, então desejou o mal. Então uma mulher estuprada ou
uma criança vítima de pedofilia emanaram energias de estupro e pedofilia? Não
faz sentido, não acha?
Nestes aspectos de desejar, agir e receber coisas boas e ruins,
não há efeitos de energias místicas que possam atrair tais situações ao
cotidiano. Sua ocorrência se trata apenas do fato de vivermos em uma sociedade
que exige múltiplas interações entre as pessoas, em que acabam valendo
conceitos de teoria dos jogos, em que interagimos mais ou menos com as pessoas
dependendo dos benefícios ou malefícios que obtemos com estas.
Tentamos ser bons e vemos como as outras pessoas nos correspondem,
se não forem boas conosco, as evitamos. Pura e simplesmente interações sociais.
Nada de energias atraindo ou afastando coisas, apenas nós mesmos selecionado
nossas companhias. E tentando escapar de ações rotineiras ou ao acaso que
permeiam a vida das pessoas e estão fora de suas capacidades de controle.
Talvez seja o aspecto mais frustrante da vida o fato de que não temos completo
controle sobre tudo o que nos diz respeito.
Além do mais, querer espalhar o bem simplesmente com o objetivo de
que ele volte para você, é bastante egoísta, não acha? Ou seja, vou fazer o
bem, pois o universo trará coisas boas para mim. Quanto egoísmo. Será que as
pessoas não conseguem fazer o bem pelo simples fato de perceberem que isso não
é prejudicial aos demais e sim benéfico? Por que as pessoas sempre querem que o
bem volte para si? Seja na forma de "energias" inexistentes ou em
recompensas após a morte? Parece puro interesse próprio essa ideia de faça o
bem para ele voltar para você ou faça o bem para ir para o céu. Não é
necessário "energia", deus, recompensas celestiais, para saber o que
é o bem e para fazer o bem, basta ter um pouco de empatia e solidariedade para
com os demais.
Ao longo de toda sua existência,
o ser humano tem se deparado com diversos fenômenos que não sabe explicar. Não
havendo um corpo de conhecimentos conciso que pudesse ser utilizado para tal e sendo
um símio imaginativo que é, desenvolveu diversas explicações sobrenaturais numa
tentativa de criar respostas para os problemas que o rondavam. Desta forma,
fenômenos naturais como trovões e secas, foram atribuídos a deuses zangados,
bem como outras entidades sobrenaturais.
Doenças, por serem ocasionadas
por seres vivos que não são visíveis a olho nu, ou disfunções desconhecidas no
funcionamento do organismo humano, foram atribuídas a entidades sobrenaturais
malignas ou justiceiras. Atualmente, com os avanços das ciências biológicas e
médicas, muitas destas doenças que se acreditava serem ocasionadas por seres
sobrenaturais, passaram a ser melhor entendidas, onde vírus, bactérias e
disfunções psiquiátricas/neurológicas tornam-se explicações corriqueiras.
Conforme mencionado em texto
anterior neste blog, pessoas com epilepsia, por exemplo, eram consideradas
pessoas sob influência de deuses ou espíritos malignos na antiguidade e idade
média, ou como pessoas possuídas por demônios, conforme afirma a bíblia cristã
sobre a epilepsia, ainda utilizada atualmente (Bíblia cristã - Mateus 17:
15-18). Porém, mesmo durante períodos antigos, muitos homens ilustres
procuraram uma explicação científica para a causa dessa doença, conforme
diversos dados apresentados por Magiorkinis e colaboradores (2010), referente à
abordagem da epilepsia no antigo Egito, Babilônia, Grécia e Roma. Atualmente,
pessoas com epilepsia passaram a ser tratadas de forma digna com medicamentos e
um acompanhamento médico, tratamentos desenvolvidos pela ciência.
Percebe-se então que desde a
antiguidade, apesar dos esforços depreendidos por diversos pesquisadores, e de
diversas fontes de informações e conhecimentos gerados, a explicação
sobrenatural para doenças sem causa visível aparente continuou sendo utilizada
em detrimento da realidade. Desta forma, certas doenças foram consideradas como
comprovações dos anseios pela existência do sobrenatural que tantas pessoas
possuem.
Um dos primeiros aspectos a
analisarmos nesta situação é que possessão implica na existência de almas ou
outras entidades imateriais não detectáveis por nenhuma tecnologia atualmente e
que de certa forma poderia interagir com a matéria. Assim, supostamente um
demônio ou alma penada, existiria de forma imaterial, mas mesmo essa imaterialidade
interagiria com a matéria, alterando o comportamento de uma pessoa e utilizando
seu corpo para fins demoníacos. Esta suposta possessão acaba implicando na
existência de uma também suposta alma humana que seria de certa forma tirada do
corpo humano, relegada a algum canto dentro da própria pessoa, enquanto a alma
invasora controlaria o corpo da pessoa.
Porém, sobre o problema da alma
devemos abordar as afirmações de Costa (2005):
“[...] segundo a lei da conservação da energia, a quantidade
de energia do Universo deve permanecer a mesma; mas se alguma energia do mundo
material se perde na alma, ou esta a introduz no mundo material, essa lei
precisa ser revista. Outro exemplo: a teoria da evolução ensina que nós
evoluímos a partir de espécies inferiores. Quando teria então surgido a alma?
Como explicar, ademais, que precisamos de um cérebro tão grande, se uma alma
inextensa [e diríamos aqui imaterial*]
com certeza caberia em um cérebro do tamanho de um grão de ervilha? Como
explicar o efeito de drogas e medicamentos na mente? Como explicar que uma
doença como a de Alzheimer, que reduz o cérebro até um terço do seu tamanho,
tenha efeitos tão devastadores sobre a atividade mental? Como explicar, em
suma, o papel do cérebro? [...]” * - Adendo meu.
Se existisse uma alma imaterial
e nela estivessem contidas todas as nossas lembranças, sentimentos, desejos,
tudo que compõe nossa personalidade, como então doenças neurodegenerativas
poderiam influenciar estas aptidões? Se existisse uma alma, como uma pessoa com
mal de Alzheimer poderia perder suas memórias? Se alma possui todas estas
características que serão usadas em um plano pós-vida, então não haveria
motivos para nos preocuparmos com doenças e transtornos mentais. Só por estas
afirmações já percebemos que as respostas para estas dúvidas implicam na
inexistência de uma alma, e assim, na inexistência deste fenômeno de possessão.
O cérebro é um conjunto de
neurônios que, em seu funcionamento como um todo, pode permitir um processo de
emergência, onde encontramos então a consciência e por meio destas interações
entre neurônios temos a formação do que chamamos de “eu”, onde não há uma
divisão entre mente e cérebro, pois ambos são a mesma entidade física. Porém, longe
de ser um órgão perfeito o sistema nervoso de todos os animais está sujeito a
falhas, em especial por meio de excesso ou falta de produção de
certos neurotransmissores que implicam em alterações na forma
como o cérebro funciona. Por vezes acontecendo uma ruptura com a realidade o
que poderia implicar no surgimento de alucinações, em caráter mais frequente
como esquizofrenia ou em eventos isolados como surtos psicóticos, que ainda em
algumas ocasiões podem ser considerados não-patológicos. Para tanto, basta que
ocorram alterações no funcionamento de suas vias dopaminérgicas, por exemplo, e
toda a percepção da realidade por parte do indivíduo é alterada (Brandão,
2004).
Estes estados de consciência
alterada, muitas vezes seguidos de alucinações, podem ser induzidos por
sugestão e manifestados por estado sonambúlico, que podem resultar em
modificações deste estado por meio de respostas verbais e físicas dadas as
injunções sugestivas. O indivíduo sugestionável assume de forma
temporária outras identidades, confusão mental ou sonolência, além de grande
desgaste físico e amnésia ao sair do processo (Nina-Rodrigues apud Almeida et
al., 2007), provavelmente sendo estas induções responsáveis pelos êxtases e
transes religiosos ou eventuais “possessões” em cultos.
Tal apropriação de pessoas sugestionáveis
a estas situações é uma deturpação de um provável estado de saúde mental
debilitado, em que as pessoas que deveriam procurar auxílio médico e não
participar destas atividades, acabam sendo usadas como atrações religiosas
devido a falta de conhecimento científico da grande maioria da população. Assim
permanecemos como na antiguidade, com doenças sendo confundidas com possessões
demoníacas.
Observe que em estudo com 115
médiuns em São Paulo, Almeida (2004) constatou que:
“[...] a mediunidade provavelmente se constitui numa vivência
diferente do transtorno de identidade dissociativa. A maioria teve o início de
suas manifestações mediúnicas na infância, e estas, atualmente, se caracterizam
por vivências de influência ou alucinatórias, que não necessariamente implicam
num diagnóstico de esquizofrenia.”
Desta forma, a alucinação não é
necessariamente algo patológico, estima-se que 10-30% da população sem
patologias mentais tenham tido alguma experiência deste tipo (Almeida, 2004). Essas
ocorrências de “deslizes” no funcionamento cerebral contribuem para que se espalhe
a ideia de visões sobrenaturais e eventuais possessões. Principalmente
associadas a um ambiente de falta de conhecimento científico por parte da
população e ao profundo desejo de acreditar na existência do sobrenatural, que
de certa forma, seria uma confirmação das expectativas em relação à existência
de um pós-morte.
Nesta discussão seria ainda
importante mencionar a síndrome de Gilles de la Tourette, doença cujos sintomas
já foram definidos como possessão demoníaca (Cavana e Ricards, 2013). Seus
sintomas são similares aos descritos no livro Malleus Malleficarum para pessoas que supostamente estariam
possuídas por um demônio (Orsi, 2011). Essa
doença é um transtorno neuropsiquiátrico que geralmente ocorre na infância, mas
que se prolonga para a idade adulta, ocasionando tiques motores e vocais,
ocasionada por alterações neurofisiológicas e neuroanatômicas (Fen et al.,
2001). Um vídeo de uma pessoa com um caso extremo desta síndrome pode ser visto
abaixo. Após ver o vídeo, refletindo sobre a situação em que estas pessoas e
outras que apresentam síndromes e alterações no funcionamento bioquímico e
fisiológico do cérebro se encontram, não deveríamos nos esforçar para que
houvesse um maior entendimento público sobre o que é ciência e medicina de
verdade, e tentar reduzir a difusão de pseudo-ciências, pseudo-medicinas e
crendices? O que seria de uma pessoa dessas em uma sociedade ainda tomada por
crenças plenas na existência de demônios? Seria exorcizada e queimada em uma
fogueira? A compreensão mais aprofundada da ciência, medicina e a prática do
ceticismo diante de crenças são fundamentais para garantir que pessoas com
transtornos neurológicos/neuropsiquiátricos passem a ter um atendimento
humanizado e correto. Que não sejam mais vistas como aberrações demoníacas em
palcos de igrejas ou rituais de exorcismo, e sim recebam o tratamento adequado
para que possam seguir de forma digna com suas vidas.
Referências
Almeida,
A.A.S.; Oda, A.M.G.R.; Dalgalarrondo, P. 2007. O olhar dos psiquiatras
brasileiros sobre os fenômenos de transe e possessão. Revista de Psiquiatria
Clínica 34(supl. 1): 34-41.
Almeida, A.M.
2004. Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de
médiuns espíritas. Tese. Departamento de Psiquiatria. Faculdade de Medicina.
Universidade de São Paulo. 278p.
Brancão, M.L.
2004. As bases biológicas do comportamento: introdução à neurociência. Ed.
Gráfica Pedagógica Universitária. 244p.
Cavana, A.E.; Rickards, H. 2013. The
psychopathological spectrum of Gilles de la Tourette syndrome. Neuroscience and
Behavioral Reviews 37: 1008-1015.
Costa, C.
2005. Filosofia da Mente. Ed. Zahar. 67p.
Fen, H.C.;
Barbosa, E.R.; Miguel, E.C. 2001. Síndrome de Gille de la Tourette: estudo
clínico de 58 casos. Arquivos de Neuropsiquiatria 59(3-B): 729-732.
Magiorkinis,
E.; Sidiropoulou, K.; Diamantis, A. 2010. Hallmarks in the history of epilepsy: epilepsy in antiquity.
Epilepsy & Behavior 17: 103-108.
Orsi, C.
2011. O livro dos milagres: a ciência por trás das curas pela fé, das relíquias
sagradas e dos exorcismos. Rio de Janeiro: Vieira & Lent.
De
acordo com o dicionário, preconceito é definido como opinião ou conceito formado
antes de obter o conhecimento adequado acerca de determinado assunto. Pode ser
definido também como opinião ou sentimento desfavorável, concebido independente
da experiência ou da razão. Ainda, em sociologia, é a "atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos". É nessa última definição que esse texto estará
focado. Nesse sentido, observa-se que nenhum tipo de preconceito é mais
importante que outro e todos eles envolvem algo em comum, o sofrimento das
pessoas ou geralmente, de pequenos grupos de pessoas.
Geralmente
quando um desses grupos minoritários alcança algum direito, garantido por lei,
existe a reação de pessoas preconceituosas com várias justificativas para
invalidar essa conquista. Recentemente nos EUA o casamento gay foi aprovado,
certamente um enorme passo em direção à tolerância e a igualdade. Esse deveria
ser motivo de comemoração, afinal, por que devo me intrometer na felicidade dos
outros, sendo que independente da forma de AMOR, não está fazendo mal nenhum
para outros seres vivos?
Justificativas
contrárias a essa questão foram desde religiosas até apelo à fome de pessoas ou
outros animais, abandonados nas ruas ou em países pobres. Quanto às
justificativas religiosas, vale ressaltar que muitas coisas escritas nos livros
considerados sagrados estão ultrapassadas e são totalmente desumanas. A título
de exemplo, se considerar a união de duas pessoas do mesmo sexo errada perante
os olhos de deus, poderíamos considerar a escravidão como algo bom, pois ambos
os assuntos possuem respaldo na Bíblia. Respectivamente Levítico 18:22 “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher;
abominação é.”e Levítico 25:46 “Deixá-los-eis por herança a vossos filhos
depois de vós, para que os possuam plenamente como escravos perpétuos. Mas,
quanto a vossos irmãos, os israelitas, não dominareis com rigor uns sobre os
outros”.
Com relação à questão da fome, sabe-se que é de
extrema importância, porém esta não depende apenas da empatia para resolução.
Envolve um sistema econômico baseado na má distribuição de renda e desigualdade
social, onde empresas e governos detêm riquezas que não são distribuídas
igualmente entre os países.
Ao longo do texto a palavra empatia aparece, mas o
que ela significa? Empatia nada mais é do que a capacidade de se colocar no
lugar de outra pessoa, buscando agir e pensar da mesma forma como ela agiria
nas mesmas circunstâncias. Então, não é preciso ser negro para
lutar contra o racismo, não é preciso ser mulher para defender igualdade de
direito e deveres entre os gêneros, não é preciso acreditar ou desacreditar em
uma (ou várias divindades) para defender um estado laico, não é preciso ser
índio para perceber como as terras histórica e tradicionalmente ocupadas por
estes povos estão sendo degradadas. Finalmente, não é preciso ser gay para
aceitar qualquer forma de amor.