Mario Arthur Favretto
Uma
das coisas mais interessantes sobre movimentos sociais que adotam a
desobediência civil e protestos pacíficos é a forma como conseguem um grande
apoio populacional e como conseguem mudar a visão social. Grandes conquistas
foram feitas em meados do século vinte por meio desta forma de protesto. Ao
contrário dos grandes protestos revolucionários agitados e violentos que muitas
vezes acabam afastando apoiadores de movimentos sociais, com todos os seus
xingamentos e extrovertidos exaltados. As mudanças na sociedade precisam ser
graduais, passo a passo, para que as pessoas consigam mudar sua visão e seus
hábitos. Mudanças bruscas conseguem pouca aceitação, mas ações voltadas para a
introversão e introspecção conseguem gerar um ponto de virada mais efetivo.
Na
ciência brasileira temos esse problema atualmente, um afastamento social, as
pessoas deixam de se interessar pela ciência devido ao choque de realidade que
muitas vezes elas têm quando entram em contato com esse conhecimento. Pessoas
são movidas muito mais por sentimentos do que por racionalidade, são
impulsivas, instintivas, somos símios. Dessa forma, uma busca por aproximação
das pessoas para com a ciência deve focar não apenas no passar conhecimento,
mas tentar mastigar a realidade científica para que seja facilmente digerível
para quem não tem acesso a ela com facilidade.
Tomemos
como exemplo alguns movimentos sociais, no caso do feminismo, é possível
observar que integrantes do grupo Femen, apesar de lutarem por uma causa justa,
afastam muitas pessoas que poderiam ajudá-las. O extremismo torna difícil a
inserção das novas ideias no meio social. Xingamentos e palavra ofensivas em
pouco vão ajudar na conscientização popular. Enquanto uma pequena ação da
introvertida Rosa Parks, em desobedecer uma lei imoral, dizendo apenas um “não”
e realizando uma pequena ação em 1955, resultaram em um ponto de virada no
movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Podemos
exemplificar essa situação na necessidade de aproximação ciência-população, com
o caso de vacinas. Poderíamos abordar a situação explicando todo o processo de
funcionamento das vacinas e xingando aqueles que não querem vacinar. Ou podemos
apelar para o lado sentimental das pessoas, o lado que mais às afeta, mostrando
os danos que a falta de vacinação gera, as sequelas deixadas pelas crianças.
Atualmente as pessoas não veem mais os danos causados por muitas doenças. Que
foi o fato que aconteceu recentemente com o retorno do sarampo para o Brasil,
uma comoção de diversas pessoas devido às mortes de dezenas de crianças devido
ao descaso de seus pais.
E
quando há uma situação como essa, altamente sentimental, é que devemos focar na
intensificação da relação ciência-população. Estamos em um ponto em que não se
trata mais de provar quem está certo ou errado, primeiro, é necessário
demonstrar a importância da ciência, para após demonstrar como ela funciona e
em quais situações ela está correta. Uso de situações sentimentais propiciará a
geração de um vínculo do cidadão com a ciência. Os artigos científicos com
publicação avaliada por pares são uma necessidade formal da ciência para que
esta mantenha sua rigidez e eficácia, são parte essencial do método científico
para não desandar para os lados das crenças e superstições. Porém a ciência
brasileira precisa mostrar sua cara para a população, mostrar para as pessoas
sua importância no cotidiano de cada cidadão, mostrar para que ela serve, como
funciona, o que a diferencia das pseudo-ciências, em que ela melhora a
qualidade vida e a saúde de uma pessoa.