sexta-feira, 24 de abril de 2015

Os insetos e (um pouco sobre) sua importância na área forense


Autora: Emili Bortolon dos Santos


Os insetos formam o grupo mais diverso de animais em nosso planeta. Existem cerca de um milhão de espécies já descritas e em cada ordem em particular, há a estimativa de que muitos mais desses seres ainda estão para serem descobertos pela ciência. Estes animais possuem uma importância que não pode ser expressada apenas em palavras, são organismos extremamente relevantes, como exemplo, podem participar da ciclagem de nutrientes (devido principalmente a seus hábitos decompositores), atuar na polinização de espécies de plantas, e, em uma visão mais antropocêntrica, atuar no controle de pragas que prejudicam cultivares. Além disso, podem também possuir importância médica devido a tantos agentes etiológicos causadores de doenças que podem transmitir aos seres humanos e outros animais.
Os insetos podem ainda ter uma grande importância na área forense, que se ocupa da resolução de crimes e alguns outros problemas judiciais. Isso ocorre devido a seu hábito alimentar, pois para se desenvolverem, muitos insetos podem utilizar carcaças de outros animais para se alimentarem, ademais, podem ainda as utilizar para ovipositar ou ainda para predar as espécies que são atraídas pelas carcaças. Por outro lado, deve ser levado em consideração que os insetos podem se alimentar de produtos armazenados ou mesmo alimentos frescos, o que pode causar certo incômodo a algumas pessoas devido ao fato de estas poderem os encontrar em seus alimentos. Este é outro exemplo de utilização desses animais na Entomologia Forense, o que pode resultar muitas vezes em processos judiciais contra empresas alimentícias.
Mas como especificamente os insetos pode ser utilizados na resolução de crimes? Existe um termo na área criminalística que é denominado “Intervalo pós-morte”, que se trata do tempo que o corpo encontrado está morto. Para se determinar isso são utilizados vários fatores, como é o caso da temperatura corporal e rigidez cadavérica. Como já foi comentado, os insetos podem se sentir atraídos pelo cadáver ou por outros fatores relacionados a ele, e, assim, estes animais podem colonizá-lo. Assim, com base nos insetos encontrados pode-se estimar o intervalo mínimo e máximo de morte do agora cadáver.
Mas como isso é feito? Os insetos (grande parte imaturos) que são encontrados nas carcaças são coletados e criados em laboratório, para que se estime a duração de cada estágio de vida destes animais. Por exemplo, se uma larva de mosca de terceiro instar (estágio de desenvolvimento) é encontrada, pode-se criá-la nas condições mais similares possíveis ao ambiente natural e verificar o tempo de desenvolvimento de cada estágio. Isso vai gerar estimativas de quanto tempo atrás o inseto colonizou a carcaça. São feitos estudos geralmente em carcaças de porcos, onde os mesmos são acompanhados diariamente para verificar quais ordens de insetos colonizam estas carcaças em cada dia que passa.
Dessa forma, sabe-se atualmente que os primeiros insetos a colonizarem carcaças são dípteros (no caso, moscas), principalmente da família Calliphoridae. Além desta família, Muscidae e Sarcophagidae (Diptera) também podem ser encontradas nas fases iniciais, e insetos da ordem Coleoptera (besouros), como é o caso de Silphidae, Histeridae e Staphylinidae, estes ainda podem ser encontrados nas fases iniciais-intermediárias. Com relação ao final do processo de decomposição, os insetos que podem atuar são em sua maioria besouros, como os escaravelhos (Scarabaeidae). No entanto, muitos outras ordens, além de Diptera e Coleoptera (as mais frequentes), podem ser encontradas em carcaças, como é o caso da ordem Mecoptera.
A Entomologia Forense surgiu há cerca de 150 anos atrás, sendo considerada uma ciência jovem, no entanto, apesar disso, já está bem estabelecida. Para quem tem interesse nessa área, é relevante dizer que tem que se ter muita paciência, pois muitos dados podem ser afetados por alguns fatores, como os abióticos (e.g. temperatura, umidade). Porém, é uma área fascinante e ao mesmo tempo forma profissionais que possuem grande importância na sociedade, pois podem reconstruir cenas de crimes com bases em seres que muitos consideram insignificantes. Há que se levar em consideração que estamos em nosso planeta há um tempo ínfimo se formos comparar com o tempo que os insetos já estão estabelecidos. Mas mesmo assim, temos um grande poder em nossas mãos, que é o de contribuir para a melhoria da sociedade, assim como os entomólogos forenses o fazem.


Referências utilizadas

Amendt J. et al (2004) Forensic Entomology. Naturwissenschaften 91: 51-65.

Lindgren N.K. et al (2015) Four Forensic Entomology Case Studies: Records and Behavioral Observations on Seldom Reported Cadaver Fauna With Notes on Relevant Previous Occurrences and Ecology. Journal of Medical Entomology 52: 143-150.



Oliveira-Costa J. 2011 Entomologia Forense: Quando os insetos são vestígios. Campinas: Millennium. 502 p.



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