Autora: Emili Bortolon dos Santos
Os insetos formam o grupo mais
diverso de animais em nosso planeta. Existem cerca de um milhão de espécies já
descritas e em cada ordem em particular, há a estimativa de que muitos mais
desses seres ainda estão para serem descobertos pela ciência. Estes animais
possuem uma importância que não pode ser expressada apenas em palavras, são
organismos extremamente relevantes, como exemplo, podem participar da ciclagem
de nutrientes (devido principalmente a seus hábitos decompositores), atuar na
polinização de espécies de plantas, e, em uma visão mais antropocêntrica, atuar
no controle de pragas que prejudicam cultivares. Além disso, podem também
possuir importância médica devido a tantos agentes etiológicos causadores de
doenças que podem transmitir aos seres humanos e outros animais.
Os insetos podem ainda ter uma
grande importância na área forense, que se ocupa da resolução de crimes e
alguns outros problemas judiciais. Isso ocorre devido a seu hábito alimentar,
pois para se desenvolverem, muitos insetos podem utilizar carcaças de outros
animais para se alimentarem, ademais, podem ainda as utilizar para ovipositar
ou ainda para predar as espécies que são atraídas pelas carcaças. Por outro
lado, deve ser levado em consideração que os insetos podem se alimentar de
produtos armazenados ou mesmo alimentos frescos, o que pode causar certo
incômodo a algumas pessoas devido ao fato de estas poderem os encontrar em seus
alimentos. Este é outro exemplo de utilização desses animais na Entomologia
Forense, o que pode resultar muitas vezes em processos judiciais contra
empresas alimentícias.
Mas como especificamente os
insetos pode ser utilizados na resolução de crimes? Existe um termo na área
criminalística que é denominado “Intervalo pós-morte”, que se trata do tempo
que o corpo encontrado está morto. Para se determinar isso são utilizados
vários fatores, como é o caso da temperatura corporal e rigidez cadavérica.
Como já foi comentado, os insetos podem se sentir atraídos pelo cadáver ou por
outros fatores relacionados a ele, e, assim, estes animais podem colonizá-lo.
Assim, com base nos insetos encontrados pode-se estimar o intervalo mínimo e máximo
de morte do agora cadáver.
Dessa forma, sabe-se atualmente
que os primeiros insetos a colonizarem carcaças são dípteros (no caso, moscas),
principalmente da família Calliphoridae. Além desta família, Muscidae e
Sarcophagidae (Diptera) também podem ser encontradas nas fases iniciais, e
insetos da ordem Coleoptera (besouros), como é o caso de Silphidae, Histeridae
e Staphylinidae, estes ainda podem ser encontrados nas fases
iniciais-intermediárias. Com relação ao final do processo de decomposição, os
insetos que podem atuar são em sua maioria besouros, como os escaravelhos (Scarabaeidae).
No entanto, muitos outras ordens, além de Diptera e Coleoptera (as mais
frequentes), podem ser encontradas em carcaças, como é o caso da ordem
Mecoptera.
A Entomologia Forense surgiu há
cerca de 150 anos atrás, sendo considerada uma ciência jovem, no entanto,
apesar disso, já está bem estabelecida. Para quem tem interesse nessa área, é
relevante dizer que tem que se ter muita paciência, pois muitos dados podem ser
afetados por alguns fatores, como os abióticos (e.g. temperatura, umidade).
Porém, é uma área fascinante e ao mesmo tempo forma profissionais que possuem
grande importância na sociedade, pois podem reconstruir cenas de crimes com
bases em seres que muitos consideram insignificantes. Há que se levar em
consideração que estamos em nosso planeta há um tempo ínfimo se formos comparar
com o tempo que os insetos já estão estabelecidos. Mas mesmo assim, temos um
grande poder em nossas mãos, que é o de contribuir para a melhoria da
sociedade, assim como os entomólogos forenses o fazem.
Referências
utilizadas
Amendt J. et al (2004) Forensic Entomology.
Naturwissenschaften 91: 51-65.
Lindgren N.K. et al (2015) Four
Forensic Entomology Case Studies: Records and Behavioral Observations on Seldom
Reported Cadaver Fauna With Notes on Relevant Previous Occurrences and Ecology.
Journal of Medical Entomology 52: 143-150.
Oliveira-Costa J. 2011 Entomologia Forense: Quando
os insetos são vestígios. Campinas: Millennium. 502 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário