Autor: Mario Arthur Favretto
A
superfície do planeta Terra não é estável e sempre ocorrem mudanças. Todos os
anos é possível observar notícias sobre terremotos, maremotos e vulcões que
entram em erupção. Há também eventos atmosféricos que provocam alterações na
superfície, como furacões e enchentes. Estes eventos são um reflexo e um
lembrete constante de que nosso planeta não é
estável; a natureza é o oposto,
extremamente dinâmica. Algumas
dessas mudanças influenciam continentes inteiros, como é o caso da deriva
continental.
Questionamentos acerca da estabilidade e imutabilidade dos
continentes foram feitos ao longo dos séculos por diversos geógrafos que
notaram que as costas de diversos continentes poderiam encaixar-se umas nas
outras, conforme se pode notar em um mapa. Porém, quem primeiro realizou
estudos aprofundados para demonstrar estes fatos foi Alfred Wegener, com sua
obra publicada em 1912, A Origem dos
Continentes e Oceanos, que demonstrou que os continentes deveriam ser
separados em placas tectônicas. Apesar disso, ele não demonstrou o que
exatamente impulsionava a movimentação dos continentes (Bryson, 2005).
Alfred Wegener. Fonte: Wikimedia Commons.
Em 1944, o geólogo Arthur Holmes com a obra Principles of physical geology, demonstrou que o aquecimento radioativo gerado pelo núcleo da Terra, poderia gerar correntes de convecção nas camadas do manto (uma camada de estrutura da Terra localizada abaixo da superfície/crosta terrestre), assim influenciando a crosta terrestre e fazendo-a se mover (Bryson, 2005). Com toda essa movimentação a crosta terrestre acabou ficando dividida em diferentes partes, denominadas placas tectônicas. Com essa repartição nos pontos de encontro dessas placas pode ocorrer intensa atividade sísmica e vulcânica, devido à sua fragilidade.
Desta
forma, no encontro de algumas placas, pode ocorrer, por pressão interna das
correntes de convecção, um constante derramamento de magma, que ao se
solidificar, auxilia a criar mais pressão que acaba por empurrar as placas
tectônicas, fazendo-as se afastarem. Em outros pontos, uma placa tectônica pode
estar sendo empurrada para cima de outra, com a de baixo sendo direcionada de
volta para o manto. Esses movimentos podem ser lentos e constantes ou a pressão
pode se acumular provocando um grande deslocamento da placa tectônica, semelhante
ao observado no Japão com o maremoto de 2011, onde a principal ilha do país foi
deslocada em 2,4 m para o leste e o eixo da Terra foi alterado em 10 cm
(Shrivastava 2011). O maremoto e sismo que ocorreram no Oceano Índico em 2004,
causaram uma movimentação na placa tectônica da Índia de até 20 m em alguns
pontos, além de ter alterado a posição do Polo Norte em 2,5 cm e também a
rotação da Terra (Walton 2005).
A
placa que é empurrada para cima, com o acúmulo dessas alterações, pode acabar
gerando grandes cadeias de montanhas, com eventuais deslocamentos que podem
chegar a alguns metros durante eventos sísmicos, como Charles Darwin observou
em sua viagem a bordo do Beagle quando visitava o Chile em 1835. Na ocasião
ocorreu um grande terremoto, seguido de um maremoto, e que ocasionou a elevação
de alguns pontos da costa. E na ilha de Santa Maria, localizado ao sul de
Concepción (no Chile), conforme medições realizadas pelo capitão do Beagle,
FitzRoy, a elevação da superfície chegou a 3 m (Keynes 2004, Darwin 2008,
Darwin 2009).
Graças
a essas alterações graduais que fósseis de moluscos marinhos podem ser
encontrados no alto de montanhas, e conforme Darwin observou, em alguns locais
os fósseis indicam que a crosta estava acima do nível do mar, tendo sido
posteriormente submersa e novamente soerguida, havendo fósseis de moluscos
marinhos e de árvores intercalados em diferentes camadas das rochas (Keynes
2004, Darwin 2008, Darwin 2009).
Outra
implicação que demonstra a movimentação das placas tectônicas é que se os
continentes permanecessem parados, todos os milhões de toneladas de matéria
erodidas pelos rios e levadas aos oceanos anualmente (por exemplo, as 500
milhões de toneladas de cálcio), multiplicando-se por todos os milhões de anos
que isto ocorre, deveria haver 20 km de sedimentos no fundo dos oceanos, fato
que não ocorre (Bryson 2005).
A
questão é que os continentes se deslocam como uma esteira rolante, mas em geral
lentamente. Em alguns casos, a partir do encontro de duas placas tectônicas,
como ocorre no fundo do Oceano Atlântico em que se encontra uma cordilheira
submersa, de norte a sul, eventualmente os picos desta cordilheira emergem,
caso dos Açores e ilhas Canárias. No meio desta cadeia de montanhas localizada
submersa no Oceano Atlântico há uma fenda, com até 20 km de largura e extensão
de 19.000 km. Em algumas partes desta fenda o magma emerge e vai pressionando
as camadas já solidificadas para as laterais e como indicam as datações
realizadas, quanto mais próximas da fenda, mais recente é a rocha que emergiu
do manto, e quanto mais distante, mais antiga (Bryson, 2005).
Multiplique-se estas
alterações por milhões de anos, e o que temos são mudanças constantes na
superfície terrestre, modificando os ambientes. Assim, para que as espécies
sobrevivam, também precisam se modificar. Como muitas vezes a fauna e a flora
são deslocadas junto com os continentes em suas movimentações ao longo de
diferentes climas, acaba-se por criar um sistema natural de seleção. Aqueles
indivíduos que possuem alguma característica que os torne mais aptos a
sobreviverem e se reproduzirem diante das alterações ambientais, são os que
passarão seu material genético adiante, mantendo sua “linhagem”, apesar das
alterações que elas sofreram por influências genéticas e ambientais.
Referências:
Bryson, B.
(2005) Breve história de quase tudo. São
Paulo: Companhia das Letras.
Darwin, C.
(2008) Viagem de um naturalista ao redor
do mundo, v. 1. Porto Alegre: L&PM.
Darwin, C.
(2009) Viagem de um naturalista ao redor
do mundo, v. 2. Porto Alegre: L&PM.
Keynes, R.D.
(2004) Aventuras e descobertas de Darwin
a bordo do Beagle, 1832-1836. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
Shrivastava, S. (2011) Earthquake shifts Japan
islands and Earth axis. World Reporter. Disponível em: <http://www.theworldreporter.com/2011/03/earthquake-shifts-japan-islands-and.html> Acesso em: 17 de março de 2013.
Walton, M. (2005). Scientists: Sumatra quake
longest ever recorded. CNN. Disponível
em: <http://edition.cnn.com/2005/TECH/science/05/19/sumatra.quake/index.html> Acesso em: 17 de março de 2013.
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